Um soneto para Verônica

Viriato Gaspar, o excelente poeta de Manhã Portátil (1984), A Lâmina do Grito (1988) e Sáfara Safra (1996), ficou comovido com a crônica “Os olhos tristes de Verônica", que publiquei há duas semanas neste blog. Na esplêndida manhã deste domingo, ele me presenteou com a mensagem abaixo, que tomo a liberdade de reproduzir, com o soneto que a acompanha:

 

“Meu velho amigo, essa história que teu talento e sensibilidade trouxeram a nós, teus leitores, tocou-me profunda e duramente. Sob essa emoção, nasceu este soneto, que espero não desmereça o sofrimento dessa mulher tão vergastada pelo destino. Minha homenagem à tua crônica, tão comovedoramente humana”.  

 

OS OLHOS DE VERÔNICA

Viriato Gaspar

(Dedicado a Antonio Carlos Lima)

 

 

A dor não seca. Vai murchando os dias.

Derrama um pus de chumbo nos instantes.

E levantar, ao sol que se anuncia,

é ter mais rasgo e pedras por diante.

 

Há que arrancar, dos ossos dos guardados,

O tutano sem luz do que foi claro.

Puxar, lá da da cacimba do passado,

o raro que se foi, sóis que murcharam.

 

Quem para pra escutar o sol nos becos?

Ninguém enxerga o horror nos olhos secos,

que a dor, quando é demais, cresta o que sua.

 

Quem sabe o horror que jaz por trás da face?

Talvez guardes a pedra que atirasses,

quando um louco cruzar a tua rua.



Comentários

  1. Dois ótimos escritores.
    A sensibilidade do cronista e do poeta transmitindo a maior dor de uma mãe.
    Parabéns a ambos!
    Mas vale ressaltar a colocação de Viriato Gaspar:.."não desmereça o sofrimento dessa mulher tão vergastada....", este sim a razão é a dor.
    Obrigado....

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Guimarães Rosa nas alturas

Quanto vale um poeta?

A vantagem do silêncio sobre a adesão do MA à Independência

Gonçalves Dias e a Independência do Brasil

Os amigos maranhenses de Guimarães Rosa

A poesia visceral de Jorge Abreu

Um governador no sertão

Mondego: anjo e demônio da Praia Grande