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Mostrando postagens de setembro, 2019

Mondego: anjo e demônio da Praia Grande

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O reencontro com o artista plástico e  bailarino Mondego, que ficou dez anos sem falar e agora diz que é   anjo e demônio José de Jesus Mondego, em seu ambiente natural: o centro histórico de São Luís do Maranhão A última vez em que nos encontramos, quase uma década atrás, no centro histórico de São Luís, ele estava cumprindo o voto de silêncio que se impusera desde o começo do milênio. Num dia qualquer do final do ano 2000, decidiu que não pronunciaria mais nenhuma palavra, nem mesmo sozinho. Ninguém mais ouviria sua voz. E, então, mergulhou num silêncio impenetrável que durou mais de dez anos. Comunicava-se com gestos econômicos, para tratar apenas do essencial com as pessoas próximas. Dependendo do interlocutor, preferia escrever o que pensava ou desejava. Na ocasião, achei-o envelhecido para os seus cinquenta anos. Magro, comprido, como sempre, com uma barba rala, embranquecida, o rosto seco e encovado de dom Quixote. Entendemos-nos por gestos e sinais, ele m

Por trás de uma vitória

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Há 124 anos, Grover Cleveland, presidente dos Estados Unidos (1893-1897), escolhido como árbitro pelas partes em litígio, decidiu, a favor do Brasil, uma explosiva questão de limites territoriais levantada pela Argentina, que reivindicava soberania sobre o oeste dos estados do Paraná e de Santa Catarina. A acreditar-se no testemunho insuspeito de Rui Barbosa, essa vitória, um dos grandes triunfos da diplomacia do Barão do Rio Branco, deveu-se, fundamentalmente, ao trabalho de um maranhense: o professor, escritor e tradutor José Antonio de Freitas (1849-1931), nascido em São Luís, mas radicado desde muito jovem em Lisboa. Convidado pelo então ministro das Relações Exteriores a colaborar com a defesa do interesse nacional, ameaçado pela nação vizinha, Freitas obteve em arquivos da Europa documentos que embasaram os argumentos decisivos para a salvaguarda das atuais fronteiras do Brasil ao sul. Em carta mencionada por Josué Montello na conferência que pronunciou em 1983, ao t

Videntes e sonâmbulos

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        A convite do Serviço de Documentação do antigo Ministério de Educação e Cultura, o poeta, crítico e tradutor maranhense Oswaldino Marques (1916-2003) organizou e editou, em 1955, o livro "Videntes e sonâmbulos",  coletânea de poemas de autores norte-americanos traduzidos por escritores e poetas brasileiros de renome. Sem fins comerciais, “destinada tão só e exclusivamente à cultura do povo”, a edição bilíngue esgotou-se rapidamente. Sorte a de quem, na época, obteve um exemplar do livro, um volume de 300 páginas impresso em tamanho grande (24x17 cm), com atraente ex-libris dourado na capa.                     Trata-se de um livro antológico, não apenas por reunir poemas consagrados de trinta dos maiores poetas dos Estados Unidos – Ezra Pound, Marianne Moore, Walt Whitman, Hart Crane, Langston Hughes, Emerson e Charles Eaton, entre outros – , mas também pela importância dos nomes que assinam as traduções: João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira, Carlos Dru