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Mostrando postagens de dezembro, 2021

Phelipe, o papa e as cinzas

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Na Estação Central de Nápoles, os três conversam em torno de uma mala aberta estendida no chão.     A festa tinha acabado na véspera, com uma apresentação de Luciano Pavarotti no Teatro San Carlo. O grosso da comitiva viajara para Roma, levando o diploma da Unesco que conferia a São Luís o título de Patrimônio da Humanidade, e eles, como assessores do governo, permanecem em Nápoles cuidando de providências burocráticas, para embarcar de trem no dia seguinte. E ali estão os três na estação, em volta da mala, atordoados com o barulho dos trens chegando e partindo das plataformas. Phelipe revira seus pertences pela última vez. Fecha a mala, põe as mãos na cabeça, encolhe os ombros. “Roubaram mesmo todo o meu dinheiro”. Em vez de guardar no cofre do hotel os 600 dólares das diárias que lhe sobravam, como faz todo viajante precavido, ele os escondera entre as roupas, na mala.   Ronald olha o relógio e alerta que faltam apenas cinco minutos para a partida do trem. Puxando as bagagens, os trê

Fé no homem, fé na vida

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Sempre que relatamos aos amigos episódios edificantes, gestos de grandeza humana presenciados ou vividos no dia a dia, como o de Joaquim, o motorista que descobriu o endereço do meu trabalho para me devolver a carteira com documentos e dinheiro que esquecera um dia antes em seu táxi no Rio de Janeiro, somos advertidos de que essas atitudes são raras. No geral, as pessoas são desonestas, egoístas, e não perdem a oportunidade de tirar vantagem em tudo, dizem, e eu acabo concordando.  Mas a leitura, nesta véspera de Natal, de um livro fascinante deixou-me inclinado a acreditar que, felizmente, estamos errados. A maioria das pessoas, demonstra o autor, assemelha-se mais a Joaquim, o motorista honesto que cruzou meu caminho no Rio, do que ao bárbaro que enxergamos no desconhecido. O livro em questão é  Humanidade, uma história otimista do homem  (Crítica, 460 p., tradução de Cláudio Carina, 2021), do escritor e pensador holandês Rutger Bregman.  O autor começa demonstrando que a visão pessi