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Mostrando postagens de novembro, 2019

História de uma infâmia

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              Eis um livro que todos os brasileiros deveriam ler. Entre outras razões, porque ele nos coloca diante do espelho, perante nossa imagem verdadeira, aquela que muitas vezes evitamos encarar. Em linguagem simples, antiacadêmica e sedutora, ele nos conta, com a objetividade e a clareza ausentes na maioria dos livros   disponíveis sobre o assunto, a história da escravidão negra no Brasil.           Primeiro de uma trilogia que o autor, o jornalista Laurentino Gomes,   produziu após seis anos de pesquisas e visitas a uma dezena de países em três continentes, “Escravidão” (Globo Livros, R$ 49,90, 504 págs.), o livro a que aludimos, é a história muito bem contada de uma infâmia que marcou a vida brasileira durante mais de 300 anos.          Como adverte o próprio Laurentino, a escravidão no Brasil foi “uma tragédia humanitária de proporções gigantescas”. Arrancados à força de suas casas, de suas famílias, de seus países, transportados como animais em travess

Aluísio Azevedo sempre

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           A sensação que se tem ao fim da leitura do livro do escritor francês Jean-Yves Mérian sobre Aluísio Azevedo ( Aluísio Azevedo: vida e obra , Editora Espaço e Tempo, 1988, Rio de Janeiro, 660 p)  é a de que não é necessário ler mais nada sobre o autor de O mulato   O e de Casa de pensão.  Mérian parece ter esgotado o tema, depois de consultar todas as fontes existentes sobre a vida do escritor, de sua família e de sua cidade (São Luís do Maranhão), de sua província, do seu país e de sua época, para compor um retrato com pretensões nada modestas, como deixou claro no subtítulo que deu à obra, em sua primeira edição: “O verdadeiro Brasil do século XIX”! Não há dúvida de que, com esse livro (na segunda edição,de 2013, patrocinada pela Fundação Biblioteca Nacional, ele perde o subtítulo pretensioso), Mérian produziu o melhor e mais completo estudo sobre o romancista e sua obra. Mas é certo também que sempre haverá espaço para novas abordagens e interpretações, tan

O padre Vieira no Maranhão

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Na biografia que deixou inédita e inconclusa do padre Antonio Vieira (1608-1697), João Francisco Lisboa mostra-se escandalizado com a defesa que o jesuíta fez, em cartas e sermões, da escravidão negra, em substituição à escravidão dos indígenas, que queria proibir, mas praticava e aceitava segundo critérios também condenáveis. “Aberrações tão incríveis não podem recomendar o grande orador à estima e admiração da posteridade”, escreveu Lisboa.        Hoje, 322 anos depois de sua morte, Vieira  mantém o prestígio e a fama que, nos últimos três séculos,  granjeou, com toda justiça,  como maior orador sacro da língua portuguesa e uma das vozes mais contundentes, ao lado do espanhol Bartolomeu de las Casas, a erguer-se contra a escravidão do gentio nas colônias da América. Mas, submetido ao juízo severo da história, o “Imperador da Língua Portuguesa” torna-se, nos tempos atuais, uma figura no mínimo contraditória, como previu Lisboa.               É esse homem de c