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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

A polêmica dos cegos (O duelo entre Machado de Assis e o maranhense Joaquim Serra)

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“ Qual dos dois cegos mais sente/ O penoso estado seu:/ O que cegou por desgraça,/ O que cego que já nasceu? ”                     Em torno dessa intrigante questão, formulada pelo jornal fluminense A Marmota aos seus leitores,   o então aprendiz de tipógrafo e aspirante a poeta Joaquim Maria Machado de Assis   travou, aos 19 anos,   sua primeira discussão pública, ao enfrentar outro Joaquim Maria, o maranhense Joaquim Maria Serra Sobrinho, de 20 anos - mais tarde um de seus mais diletos amigos- , no episódio que ficou conhecido como “a polêmica dos cegos”. A polêmica, que durou um mês, de 26 de fevereiro a 26 de marco de 1858 –   há 161 anos, portanto - exibiu um Machado de Assis diferente daquele apresentado por seus biógrafos: o do intelectual que cultivara, durante toda a vida, o “tédio à controvérsia”. Afinal,   à exceção da crítica corrosiva feita ao escritor português Eça de Queiroz, a propósito   do realismo de “O crime do padre Amaro”, o maior escritor brasileiro

A poesia visceral de Jorge Abreu

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Contra toda forma de barbárie, a poesia. “Contra fel, moléstia, crime, use Dorival Caymmi, vá de Jackson do Pandeiro”, receitou o cantor popular.  E tome poesia, concordou Octávio Paz,  para quem a poesia é conhecimento, salvação, poder e abandono. Foi com a noção desse poder utilitário, revolucionário e redentor do poema que o jornalista Jorge Abreu rendeu-se, enfim, ao assédio insistente da poesia. O resultado dessa capitulação é o belo e tocante  livro “Danações” (Editora Benfazeja), que ele acaba de lançar em Barra do Corda, a sua Ítaca natal, para a qual retornou definitivamente depois de enfrentar e vencer, como Ulissses, grandes batalhas nos seus mares interiores. Que ninguém se iluda com o título do livro, porque as danações de Jorge Abreu não se referem a travessuras, estripulias e teimosias, às quais está associado o vocábulo no interior do Brasil, e nas quais ele foi especialista, como menino crescido livremente “entre várzeas e rios de águas límpidas”, como diz o

A Petagógica e as fake news

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“PRIMEIRO editor, digno do nome, que houve entre nós”, segundo Machado de Assis, Francisco de Paula Brito (1809-1861) foi também autor de uma iniciativa original, no início dos anos 40 do século XIX, de combate a notícias falsas, as fake news, praga que parece nova em nossos dias, mas é tão antiga quanto a humanidade.  Nos fundos da livraria de sua propriedade, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, Paula Brito fundou o que depois denominaria de Sociedade Petalógica, um clube lítero-recreativo e humorístico que reunia intelectuais, artistas, jornalistas e pessoas simples do povo. O jovem aprendiz de tipógrafo Machadinho era um dos frequentadores do clube. "Peta” significa mentira. O principal objetivo da sociedade, que tinha suas atas publicadas na Marmota Fluminense, outra invenção de Paula Brito, era desmoralizar os mentirosos – aqueles que, valendo-se de certa credibilidade - políticos, comerciantes e redatores de pasquins - , disseminavam mentiras, e, com elas, “faziam