Aluísio Azevedo sempre


          A sensação que se tem ao fim da leitura do livro do escritor francês Jean-Yves Mérian sobre Aluísio Azevedo (Aluísio Azevedo: vida e obra, Editora Espaço e Tempo, 1988, Rio de Janeiro, 660 p) é a de que não é necessário ler mais nada sobre o autor de O mulato O e de Casa de pensão. Mérian parece ter esgotado o tema, depois de consultar todas as fontes existentes sobre a vida do escritor, de sua família e de sua cidade (São Luís do Maranhão), de sua província, do seu país e de sua época, para compor um retrato com pretensões nada modestas, como deixou claro no subtítulo que deu à obra, em sua primeira edição: “O verdadeiro Brasil do século XIX”!

Não há dúvida de que, com esse livro (na segunda edição,de 2013, patrocinada pela Fundação Biblioteca Nacional, ele perde o subtítulo pretensioso), Mérian produziu o melhor e mais completo estudo sobre o romancista e sua obra. Mas é certo também que sempre haverá espaço para novas abordagens e interpretações, tanto sobre o escritor maranhense quanto sobre o complexo país que foi o Brasil do século XIX. A “verdadeira” história do Brasil daquela época ainda está por ser escrita.

Por isso, ao decidir reunir em livro ensaios e artigos que há algum tempo vem publicando na imprensa sobre o introdutor do Naturalismo no Brasil, o escritor maranhense Lourival Serejo vislumbrou, com propósito bem mais modesto, esse espaço para novas leituras sobre o conterrâneo ilustre. Em Aluísio Azevedo sempre (Editora Serejo, São Luís, 2019, 154 p.), que dedica a Jean-Yves Mérian, ele condensa, em textos simples mas irretocáveis, as informações mais importantes e úteis para o conhecimento da vida e obra de Aluísio, além de apontar suas possíveis conexões com outros autores.

Depois de um esboço biográfico, Serejo faz um resumo de cada uma das obras do autor de O mulato, traça um perfil da mulher maranhense da época, retratada em suas crônicas e romances, indaga as razões que levaram o escritor a parar subitamente de escrever e identifica coincidências que o aproximam de Mario Vargas Llosa (como o escritor peruano, planejou escrever um romance sobre a Guerra de Canudos), Antonio Lobo Antunes (o escritor português ficou impressionado com a leitura de Casa de pensão) e o turco Orhan Pamuk (ambos eram fascinados pela pintura).

O livro de Lourival Serejo é, como o próprio autor assinala, uma homenagem a Aluísio Azevedo no 106o. aniversário do seu falecimento em La Plata, na Argentina. Mas ele acaba por homenagear também os leitores (a maioria, hoje, formada por estudantes) de um dos autores do século XIX mais populares em nossos dias. Além de provar que, mesmo após a obra  monumental
de Jean-Yves Mérian, há espaço para novas, agradáveis e úteis leituras sobre o seu ilustre biografado. Um livro que enriquece a bibliografia de Aluísio Azevedo.




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