A Igreja deve ordenar homens casados?

Padre Antonio Diogo Feijó
O padre Diogo Antonio Feijó (1784-1843), se vivo estivesse, estaria muito contrariado com a decisão do Papa Francisco, anunciada nesta quarta-feira (12.02.2020), de rejeitar a proposta do Sínodo da Amazônia de ordenar homens casados como padres para atuarem na região.

Feijó, que foi deputado e senador por São Paulo, ministro da Justiça e regente do Império, defendeu, com veemência,  durante os primeiros anos do Brasil independente, um projeto apresentado à Assembléia Geral, extinguindo o celibato, isto é, a proibição imposta aos padres e freiras de se casarem.

O panfleto de Feijó em defesa
           da abolição do celibato
Ele lembrou que antes do Concílio de Latrão proibir, no século XII, o casamento de sacerdotes, padres casados já exerciam os seus ofícios. E que o celibato não é algo natural, mas uma imposição medieval aceita sem discussão ao longo da história.

Feijó compartilhava argumentos como os de que “a história conserva o triste quadro dos escândalos, deboches, adultérios e mil outros crimes que desonram a Santidade do Ministério Eclesiástico”, do teólogo Franz Gmeiner (1752-1884). Escreveu e publicou, em 1828, o folheto Demonstrasão (sic) da necessidade da abolição do celibato clerical, mas foi voto vencido.

No outro lado da discussão estava outro padre, deputado pela Bahia: Marcos Antonio de Sousa (1771-1842), que viria a ser bispo do Maranhão a partir de 1830.

Dom Marcos Antonio de Sousa, lembrado por ter sido o fundador do Seminário Santo Antonio, em São Luís, foi um dos parlamentares religiosos mais atuantes em defesa do celibato.

A discussão sobre o assunto permaneceu por algum tempo.

Bispo maranhense D Antonio Alvarenga
Em 1884, B. L. Castello Branco, presbítero da diocese do Maranhão, publicou o folheto: O padre deve ser casado?, com aprovação do bispo Dom Antonio Candido de Alvarenga (aquele que fundou o jornal Civilização para atacar os maçons e, principalmente, o jovem escritor Aluísio Azevedo pela publicação, em 1881, do romance “O Mulato”).

Como a discussão é antiga, e o Papa Francisco é um liberal, esperava-se que ele permitisse, pelo menos para a Amazônia, por enquanto, onde a Igreja é mais ausente pela falta de sacerdotes, a presença de religiosos casados.

O padre Feijó o aplaudiria lá das profundezas ou das alturas onde se encontre.


Mas não foi desta vez.
A defesa maranhense do celibato


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