Pedro Nava do Maranhão

Ignoram-se as razões pelas quais, antes de publicar a obra que o consagrou, o médicoescritor e memorialista mineiro Pedro Nava jamais visitou o Maranhão, terra de seus avós paternos e onde estão fincadas suas mais remotas raízes familiares no Brasil. 
Em “Baú de ossos”, o primeiro de uma série de seis livros que constituem a mais importante obra da memorialística brasileira, Nava revela que, em São Luís do Maranhão, nasceu o seu  bisavôFernando Antonio Nava, filho do italiano José Nava, que desembarcou no Brasil no final do século 18. 
Também em São Luís nasceram os irmãos Maria Nava Rodrigues, Ana Nava Rodrigues,  Paula Nava Guimarães (que foi professora do Curso Primário, em Caxias) e Pedro da Silva Nava, avô do escritor.
Esse Pedro, segundo o testemunho do netoveio ao mundo em 19 de outubro de 1843, na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, em São Luís, onde viveu até os vinte anos, quando mudou-se para Fortaleza.  Do casamento com Ana Cândida Pamplona, de tradicional família cearense, nasceu, em março de 1877, na capital cearense, José Pedro da Silva Nava. José Pedro casou-se com a mineira Diva Mariana Jaguaribe e, dessa união, nasceu, a 5 de junho de 1903, em Juiz de Fora, Minas Gerais,  Pedro Nava, o memorialista.
Quando criança, e durante a juventude, o “pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais”, como se apresenta nas primeiras linhas de “Baú de ossos”, ouvia, extasiado, relatos, muitos deles fantasiosos, principalmente de um tio-avô, sobre os encantos e mistérios de São Luís. Essa a razão, ele confessa, de ter alimentado por toda a  vida o desejo de conhecer a terra dos seus antepassados. 
Como não satisfez o desejo até a publicação de suas memórias, descreveu uma cidade construída apenas pela imaginação, sob o influxo daquelas descrições e das leituras do relato de viagem apaixonado de Robert Avé-Lallemant, médico alemão que aí estivera em 1859.
A falta de contato com parentes tão próximos e com o universo em que viviam fez com que dedicasse poucas linhas ao Maranhão em sua obra monumental, diferentemente do que procedeu em relação ao Ceará, ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais, onde nasceu.
O que é lamentável, do ponto de vista histórico, intelectual e afetivo. 
Porque, como observou o poeta Carlos Drummond de Andrade, seu conterrâneo e amigo, “a crônica individual de Pedro Nava se converte em panorama social de várias regiões brasileiras, pois o itinerário do sangue o faz remontar a raízes de clã no Nordeste, e deter-se em território carioca, antes de aflorar em Minas como produto do entrelaçamento de famílias que são forças em movimento no Brasil do século 19.
Tivesse interesse em vasculhar os anos de mocidade do avô em São Luís – de 1843 a 1863 -, Pedro Nava teria mergulhado num dos períodos mais efervescentes da história do Maranhão, o do seu apogeu econômico e intelectual da primeira metade do século 19, e da posterior decadência, com o testemunho dos seus parentes contemporâneos.
Em 1972, quando iniciou a publicação de sua saga familiar, teria conhecido os Nava que permaneceram em São Luís e se espalharam pelo Maranhão. Muito provavelmente iria a Barra do Corda, onde, nos primeiros anos da República, já um Nava dirigia os destinos da municipalidade. 
E, naquele início dos anos 70,  haveria de encontrar este “pobre homem” das Mangabeiras, ainda menino, na casa de seus amigos Nava - Vanda, Miltinho, Hamilton, Paulo Roberto e Serginho -  para onde ia com frequência, atraído pelos livros e revistas que eles consumiam com paixão.
O pai deles, Milton Nava, telegrafista dos Correios e Telégrafos, era primo de um dos maiores escritores brasileiros do século 20!
O que só viríamos a saber em 1984, quando o Brasil recebeu com espanto a notícia de que, aos 80 anos,  Pedro Nava havia estupidamente posto termo à vida com um tiro na cabeça.
Que pena que Pedro Nava não tenha ido ao Maranhão antes de construir o seu monumento.

Comentários

  1. Certamente,essa inconstate obcessao pela exclusao da sua vida o acompanhou por toda a sua vida..

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