As máscaras

E ra quase meia-noite, fazia muito frio, as ruas estavam semidesertas. O silêncio era quebrado apenas pelo barulho dos caminhões de lixo e das máquinas que, naquele trecho de Las Condes, lavavam e perfumavam as calçadas com lavanda. Um casal deixa um pequeno prédio da calle Napoleón, caminha até a Apoquindo e, na primeira lixeira, deposita o material pesado que leva em duas sacolas. São três máscaras de madeira escura, ricamente entalhadas. O casal retorna rapidamente ao prédio, e a noite prossegue, glacial, em Santiago do Chile. Aquele tinha sido um dia estressante para o casal: minha mulher e eu. Pela manhã, eu havia recebido um diagnóstico assustador do médico gastroenterologista que me atendera em seu consultório em Providência. Depois de observar várias vezes o resultado dos exames, perguntou se eu me sentia bem, se sofria de dores, ânsias de vômito, tonturas. Respondi que não, tudo o que eu sentia eram reflux...